sexta-feira, 12 de junho de 2015

POVO PEDE SEGURANÇA NO BRASIL ( CADEIA PARA OS ASSASSINOS! )

PAULO BRIGUET

SOMOS TODOS MIRELLA
Ontem o Pedro perguntou à mãe: “Onde está Deus?” Ele fez a pergunta quando estava no carro, de volta da escola, poucas horas antes do assassinato da professora Mirella Guandalini.
O nome Mirella apareceu pela primeira vez em um poema do escritor francês Frédéric Mistral, ganhador do Nobel de Literatura. Significa admirável. Foi morta porque passou mal enquanto dirigia sob a mira de assaltantes, enquanto seu filho adolescente estava preso no porta-malas do carro, amarrado e amordaçado.
Os bandidos ficaram irritados com o mal-estar de Mirella e decidiram matá-la com um tiro na cabeça. Onde está Deus?, pergunta o Pedro. Certamente não está no coração dos assassinos.
No poema que serve como epígrafe do livro “É isto um homem?”, o escritor Primo Levi, sobrevivente de Auschwitz, define o campo de extermínio como o lugar onde se morre por um sim ou por um não. E é exatamente pelo mesmo motivo – um sim, um não – que os bandidos matam 60 mil pessoas por ano, índice maior que o de países em guerra civil. Até quando suportaremos calados esse banho de sangue? Até quando ouviremos calados que as verdadeiras razões do crime são sociais? Até quando vamos tolerar calados os “especialistas” que apontam como solução desarmar e desamparar o cidadão de bem?
Mirella era instrutora de culinária. Uma pessoa cercada por amor e amizade. Formou-se na Unopar, trabalhava em Londrina e morava em Ibiporã. Completaria 45 anos no próximo dia 21. É a minha idade, mas isso não me torna mais igual a ela do que qualquer um de nós. Todos os londrinenses, sem exceção, já pararam naquele semáforo em que Mirella e o filho foram abordados pelos assaltantes. Um deles tem 16 anos. (Ah, este silêncio? É dos defensores da minoridade penal.)
Pois eu responderei à sua pergunta, meu filho. Deus está agora ao lado de Mirella. Onde todos nós deveríamos estar.

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